De fato, pensar a Psicologia enquanto profissão não é uma tarefa simples!
Enquanto ciência que ainda engatinha no emaranhado das diversas teorias criadas, algumas em constante aprimoramento, é muito importante que o Psicólogo se situe dentro de sua profissão, de modo a atuar com ética, compromisso e cuidado. Afinal, lidar com o sofrimento mental, seja individual ou coletivamente, implica em imensa responsabilidade por parte do profissional.
Enquanto Psicólogos, há que se pensar em uma formação contínua, na lapidação e revisão das técnicas e abordagens aprendidas e, principalmente, no trabalho pessoal, eis que para saber ouvir é necessário que os 'barulhos da mente' já estejam devidamente alocados em nossa psique.
"Mas para ser Psicólogo eu preciso fazer terapia?"
Ora, você acredita ou não no potencial da profissão que irá exercer?
Uma pergunta respondida com outra pergunta...
PSICOLOGIA - 50 ANOS DE PROFISSÃO NO BRASIL
"POR QUE VOCÊ ESCOLHEU ESTUDAR PSICOLOGIA? (Por Ana Suy)
Invariavelmente os professores fazem esta pergunta, mais de uma vez, aos estudantes de psicologia do primeiro período. Como eu começo a dar aulas para alunos de psicologia a partir do segundo período, nunca perguntei assim, mas eu já fui estudante de psicologia e sei que as respostas costumam girar em torno de argumentos tais como "para ajudar as pessoas", "porque meus amigos disseram que eu sou paciente para ouvir", "dou bons conselhos embora não os siga", "quero entender a mente humana" etc.
O fato é que, na verdade, em geral, a gente sequer sabe por que vai estudar psicologia. "O Eu não é senhor de sua própria casa", nos diz Freud. Então, por razões que geralmente desconhecemos, escolhemos a graduação que queremos cursar, ou o que pensamos querer, ou, ainda, a que parece nos horrorizar menos - e segue o baile. Mas a gente acha, acha mesmo, que vai encontrar uma grande massa homogênea chamada "a psicologia", e que com ela aprenderemos a entender os outros e principalmente a nós mesmos.
Rapidamente, o estudante de psicologia descobre que "a psicologia" enquanto singular não existe, que o que existe são "as psicologias". Ou seja, há diferentes linhas teóricas. Isso significa que cada linha teórica vai dizer uma coisa diferente sobre um mesmo fenômeno psicológico. O estudante de psicologia, bem intencionado, porque os estudantes de psicologia geralmente são pessoas que vão estudar achando que é para ajudar os outros, pensa: vou fazer uma mistura e usar um pouco de cada, vai ficar ótimo. Ledo engano. Logo, se o estudante de psicologia for alguém dedicado, ele descobrirá que é impossível. As linhas teóricas são incompatíveis e muitas vezes fazem leituras opostas sobre uma mesma coisa. Não dá pra ter duas linhas teóricas ao mesmo tempo quando uma diz algo avesso à outra.
Assim, o estudante de psicologia fica um tanto assustado, porque se dá conta de que enquanto profissional da psicologia, não vai dar pra assumir o lugar do "isentão", uma vez que, para "escolher" qual linha irá seguir, deverá ter que bancar a sua escolha.
E como é que se faz essa escolha? Ou, como é que se banca essa escolha?
É aí que mora o perigo. Ninguém escolhe a linha psicológica porque ela está na moda, porque tem mais artigos científicos, porque acha que é chique ou porque vai dar mais dinheiro (embora a relação com os professores possa nos influenciar em vários aspectos das construções dessas fantasias), mas a gente "escolhe" a tal da linha psicológica simplesmente porque descobre que a gente funciona como ela. Coloco aspas no "escolhe" porque se trata mais do reconhecimento do nosso próprio modo de funcionamento do que de uma escolha consciente, tal como a gente escolhe a melhor fruta no mercado.
Então, digo que é aí que mora o perigo, porque, independente de nos darmos ou não nos darmos conta disso, estudar psicologia é estudar a si mesmo, por várias vertentes. E se é comum dentre os estudantes de psicologia e os psicólogos o dito de que "não somos nós quem escolhemos a linha, mas é a linha que nos escolhe", é bem porque sabemos que se trata mais de um reconhecimento do que de uma escolha.
De minha parte, amei muito todas as teorias psicólogicas e cogitei seriamente me especializar em cada uma delas até entender, de fato, o que era o complexo de édipo. Coisa que, vejam bem, não entendi na universidade, mas em minha própria análise, já no oitavo período do curso. (Agora, como é que eu tinha decidido fazer análise psicanalítica e não outra psicoterapia, mesmo antes de saber do meu desejo decidido pela teoria freudiana, "só deus sabe" - e por "deus" leiam aqui um nome que eu dou para o "inconsciente")
Assim, o mais frequente é que aquele que estuda psicologia, comece a se angustiar quando estuda. Não porque não entende a matéria ou porque tem coisas demais a estudar (embora essas sejam variáveis importantes), mas porque encontram a si mesmos nos textos. Aí desenvolvem a síndrome do "eu tenho isso". Tenho isso, isso também e isso. Tenho quase todos os transtornos do dsm, sou neurótico-psicótico-perverso, disfuncional, pouco assertivo e tenho todos os complexos já descobertos até aqui.
A consequência disso é um profundo estado de angústia, que cada um responde a seu próprio modo: recalcando, trocando de curso, se queixando em demasia das coisas a fazer, indo mal nas matérias etc. A saída que eu mais gosto para essa angústia é buscar análise ou psicoterapia.
E aí vocês podem argumentar como bem entenderem dizendo que estudante não tem dinheiro etc e essas coisas que eu também já vivi quando era estudante, mas o fato é que eu só tenho certeza de duas coisas na vida: a primeira é que todas as proparoxítonas são acentuadas (se bem que com a reforma ortográfica eu já ponho até isso em questão) e a segunda é de que é absolutamente IMPOSSÍVEL ser um bom profissional da psicologia sem se submeter à análise ou à psicoterapia. E não tô dizendo de ir a meia dúzia de sessões pra ver como é que é, mas tô dizendo de tomar a si mesmo como seu primeiro caso clínico, levar seu psiquismo a sério e fundar, assim, uma ética.
Lidar com a gente mesmo não é coisa que se aprenda na universidade. E não tem como trabalhar lidando com o outro sem essa primeira tarefa fundamental que é lidar com quem se é.
(Se me permitem outra sugestão, com licencinha: peçam recomendações de psicólogos ou analistas antes de irem a pessoas em quem vocês confiem. Quanto ao valor a se pagar, diferentes profissionais cobram diferentes valores - e a coisa pode variar muito mesmo. Não saiam repetindo clichês de que é caro sem antes sentar a bunda na poltrona do consultório de alguém e tentar acordar um valor. É claro que a coisa precisa ter um custo e não pode ser barata, mas o que é caro para cada um é bem variável. Além disso existem clínicas-escola de psicologia em todas as faculdades que têm curso de psicologia onde muitas vezes o atendimento é gratuito ou por um valor simbólico, também tem vários profissionais recém-formados que são muito sérios e éticos em seus trabalhos e têm ampla disponibilidade para negociação)."
OS DESAFIOS DE SER PSICÓLOGO NO BRASIL
Parabéns, ficou muito bom!
ResponderExcluirMuito bom. O texto nos faz refletir sobre o nosso futuro com uma responsabilidade muito grande.
ResponderExcluirDebora
ResponderExcluirMuito bom. O texto nos faz refletir sobre o nosso futuro com uma responsabilidade muito grande.
Valeu pessoal!
ResponderExcluirShow de bola, adorei!!!
ResponderExcluirFicou Show! Parabéns!!!
ResponderExcluirParabéns, ficou perfeito o blog de vocês. Samira Fernandes
ResponderExcluirBlog excelente, ótimos conteúdos 😘😘
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